Com a recente troca de comando em âmbito nacional, o Brasil apresenta, de acordo com as opiniões de diversos economistas e analistas políticos, boas perspectivas econômicas para 2019, porém, ainda dependentes das reformas que serão necessárias para “destravar” o crescimento do país, com destaque especial para a reforma da Previdência. O país deve apresentar um crescimento positivo, mas moderado, a partir deste ano. Além disso, há a previsão de um cenário externo mais turbulento, o que pode levar a uma possível desaceleração da economia mundial.
Há a indicação de avanço positivo do Produto Interno Bruto (PIB), mas ainda em ritmo de recuperação, já sob o comando do novo governo. É o que os especialistas chamam de um “otimismo cauteloso”. O cenário nacional atual apresenta uma série de desafios a serem superados, entre eles: alto grau de endividamento das famílias, empresas e inclusive dos governos estaduais, o que reduz em muito a capacidade de consumo e de investimento, tornando a recuperação econômica mais lenta.
Resumindo: ainda vamos levar bom tempo pagando pelos históricos “erros de investimentos em função de decisões políticas”. Há um verdadeiro “colapso das contas públicas” a ser resolvido. É um fator que irá limitar o crescimento e os investimentos do Governo Federal, dos Estados e dos Municípios.
Risco de desaceleração ronda economia mundial
No ambiente internacional, existe risco de desaceleração econômica, agravada pela guerra comercial, instabilidades geopolíticas e perspectiva de aumento dos juros nos Estados Unidos, fator que pode afetar negativamente o fluxo de capitais para países emergentes como o Brasil.
A mudança de comando do país teve reflexos bastante positivos, especialmente pelo fato de o novo governo haver sinalizado com uma agenda de cunho reformista, afastando assim as previsões mais pessimistas que rondavam a economia nacional. Os principais indicadores da economia brasileira apresentaram perspectivas de melhora, porém, um crescimento mais expressivo vai depender de como o governo vai lidar com as reformas prometidas, especialmente nas questões fiscal e previdenciária.
Caso as reformas se concretizem, haverá um aumento dos investimentos no país, resultando em ganhos de produtividade, melhores índices de crescimento, geração de emprego e renda, estabelecendo um “ciclo virtuoso” na economia nacional. O Brasil precisa encaminhar uma boa reforma tributária, combater firmemente a corrupção, melhorar o ambiente para os investimentos, avançar na qualidade da educação e investir na prevenção das frequentes “catástrofes ambientais” que, além do impacto social e ambiental, também causam enormes prejuízos políticos, ne imagem do país no cenário internacional.
O papel das cooperativas na inclusão das pessoas
Com certeza, as decisões tomadas pelo novo governo em âmbito nacional terão seus impactos em todas as áreas e ramos de negócios, inclusive para o cooperativismo como um todo. É importante destacar que o modelo de negócios cooperativo foi constituído em meio a uma grave crise econômica e social, no auge da revolução industrial, em Rochdale, Inglaterra, 1844. Dentro de um cenário extremamente desolador é que 28 tecelões - 27 homens e uma mulher - fundaram a primeira organização cooperativa dos tempos modernos.
Portanto, está no DNA do cooperativismo a resiliência e a capacidade de superar crises e turbulências, através da união das pessoas, da sinergia promovida pela cooperação. Assim, mesmo em tempos de crise, o cooperativismo continua crescendo, justamente por possuir essa capacidade de unir pessoas em torno de objetivos comuns, para superar as adversidades e promover o desenvolvimento econômico, social das pessoas e das comunidades onde as cooperativas estão inseridas.
Em qualquer cenário, mas especialmente em tempos de grandes desafios econômicos, sociais e ambientais é que as cooperativas se tornam ainda mais imprescindíveis para o desenvolvimento sustentável e colaborativo de um país. O cooperativismo possui um papel fundamental na inclusão das pessoas, dos seus associados, dentro desses novos cenários.
Mundo vive um momento de grandes mudanças
Em âmbito mundial, estamos vivendo momento de grandes mudanças. Cresce cada vez mais o conceito e a prática do compartilhamento de bens, serviços, habilidades e conhecimentos. É a chamada "economia colaborativa ou compartilhada”. A colaboração é algo que está no DNA da doutrina cooperativista, é a grande base que ajudou a consolidar a primeira cooperativa dos tempos modernos na Inglaterra. Os princípios estabelecidos pelos 28 tecelões pioneiros de Rochdale foram criados tendo como base a colaboração e o compartilhamento.
Assim, o que hoje é considerado algo "novo", já vem sendo praticado há muito tempo pelo movimento cooperativista no mundo todo, que é a "economia cooperativa", baseada em valores e princípios de colaboração, de compartilhamento e de cooperação, com o objetivo de ajudar a melhorar a vida das pessoas e construir um mundo melhor e mais sustentável para todos.
O apoio do Estado é bom e necessário para o cooperativismo em geral, porém, é uma parceria que deve ser muito bem administrada, tendo em vista o que a nossa história traz como lição – episódios em que a chamada "ingerência" política nas organizações cooperativas teve consequências não muito positivas para as nossas instituições.
Incentivo ao cooperativismo equilibra economia
O cooperativismo hoje possui amparo na legislação, por meio da Constituição Federal e também por meio de diversos avanços conquistados pelas cooperativas, especialmente no ramo crédito, que é hoje o ramo que mais cresce no país. Ainda podemos avançar muito em termos de legislação cooperativista e incentivos ao crescimento do setor, mas acredito que, independentemente da mudança de comando na condução do país, o ambiente continuará favorável e propício ao desenvolvimento das cooperativas no Brasil, especialmente pelos avanços e pelo amadurecimento já conquistado e consolidado.
Outro ponto que cabe destacar é que as cooperativas possuem uma importância estratégica para o Estado, no sentido de promover a concorrência saudável no mercado, nas mais diversas atividades da economia nacional. Assim, o incentivo ao cooperativismo é um fator importante para o equilíbrio na economia.
No caso do cooperativismo financeiro, por exemplo, o Banco Central do Brasil (BCB) tem promovido muitos avanços para o setor, tendo como objetivo justamente promover o equilíbrio dentro do Sistema Financeiro Nacional (SFN), o que resulta em melhores condições de acesso aos produtos e serviços financeiros por parte da população, com preço justo e ajudando no desenvolvimento das comunidades onde as cooperativas estão inseridas.
Concorrência exige mais gestão e intercooperação
De qualquer forma, independentemente dos rumos que a economia nacional tomar, esse não é o nosso único grande desafio, pois temos muitas outras questões que devem ser muito bem avaliadas e planejadas, especialmente as que dizem respeito ao acirramento da concorrência no mercado. Temos hoje, por exemplo, a questão do surgimento de novas tecnologias, compreendendo as startups, fintechs, criptomoedas, tecnologia blockchain, e inclusive a entrada no mercado das empresas denominadas como “gigantes da tecnologia”, que possuem grande poder econômico e capacidade de atuação global.
Dentro desses novos cenários, as cooperativas devem investir na gestão profissional de seus negócios, em tecnologia, e no fortalecimento dos seus valores e princípios, como grandes diferenciais de mercado.
O sexto princípio cooperativista prevê a "Intercooperação", ou seja, a cooperação entre as cooperativas. Para que as cooperativas de um modo geral possam se manter e crescer nesses novos cenários, é necessário mais do que nunca fortalecer e praticar a intercooperação. Somente unidas, as cooperativas poderão assegurar a sua continuidade e sucesso no mercado. A união de forças, de pessoas, de capital, de estruturas cooperativas, torna essas instituições muito mais fortes.
Cooperativas unidas possuem muito mais poder de mercado, mais recursos, mais capital, mais ganhos em volume e em escala, e quem sai ganhando são os associados dos empreendimentos cooperativos, quem ganha é a sociedade, as pessoas. É a união em prol de um bem maior, que é o de gerar desenvolvimento econômico, social e ambiental para as comunidades onde as cooperativas estão inseridas.