A governança corporativa é um dos principais temas debatidos pelas organizações tanto pela necessidade de se implantar programas de compilance dado os inúmeros casos de corrupção instaurados em âmbito público e privado quanto pelas tendências do mundo corporativo do ponto de vista da competitividade, principalmente no que tange às decisões em nível de gestão de pessoas e de recursos. Neste aspecto específico, as organizações estão orientadas para resultados e moldam seu portfólio de produtos e serviços de acordo com as necessidades dos clientes, uma vez que estes se mostram cada vez mais ativos, conhecedores do produto que adquirem fato que é justificado pela facilidade de acesso à informação na era digital.
Assim, conforme a teoria dispõe, a governança corporativa trata forma pela qual as organizações são direcionadas, monitoradas e incentivadas. O foco está na garantia dos bens e direitos dos envolvidos nas transações através de um conjunto de normas, entre a cooperativa e os sócios para que se cumpram as diretrizes estabelecidas pela instituição. Seu principal objetivo é reduzir riscos e custos envolvidos nesta relação, considerando que os contratos, entendidos como o vínculo jurídico acordado entre duas ou mais pessoas, não são capazes de prever todas as circunstâncias futuras.
Daí se dá a importância da cultura interna, do planejamento estratégico, bem como da distribuição do poder na administração e nos diferentes níveis de responsabilidade que os diversos atores envolvidos nos processos diários da cooperativa assumem em âmbito operacional. Nesse sentido, a governança corporativa cria valor para a organização do ponto de vista interno e externo.
No primeiro momento, este ganho ocorre a partir da regulamentação dos procedimentos de modo que os interesses da cooperativa, dos seus sócios e dos colaboradores tornam-se alinhados para que todos os envolvidos compreendam o seu papel e, dessa forma, se reduza conflitos e divergências. Ou seja, é importante que o planejamento e os objetivos estratégicos da cooperativa estejam alinhados à missão e aos valores organizacionais. Na perspectiva externa, o valor econômico e social de mercado da organização se eleva na medida em que a mesma oferece maior credibilidade política e transparência aos parceiros, clientes e cooperados.
Mesmo que as organizações cooperativas não sejam instituições de capital aberto, ou seja, suas quotas partes não sejam negociáveis no mercado, as práticas de governança corporativa a beneficiam diretamente na redução do custo de agência e do oportunismo e contribui para um sistema de gestão transparente que gera maior confiança e fidelidade por parte dos cooperados.
Um bom sistema de governança nas organizações cooperativas é aquele em que os agentes de governança, que são todos os sócios envolvidos, possuem pleno conhecimento do ambiente societário do qual fazem parte. Ou seja, quando a estrutura de poder e o propósito, entendidos como conjunto de valores que rege a organização está disposto de forma legitimada e são internalizadas pela equipe de trabalho. Dessa forma, se obtém melhores resultados pela redução do custo no tempo de tomada de decisão e repasse de informações, uma vez que os colaboradores são direcionados para objetivos e metas claras.
Nas cooperativas, os membros do conselho de administração, da direção executiva, bem como os conselheiros fiscais assumem funções chaves do qual cabe ressaltar o papel de representantes do quadro social enquanto sujeitos fiscalizadores, a função de estabelecer e acompanhar o plano estratégico, bem como a supervisão da ação das demais gerências. Não obstante, o conselho administrativo assume importante papel de ligação entre a cooperativa e o mercado, uma vez que comumente estão em contato com líderes de outras organizações.
Neste aspecto, cabe observar a disposição dos papéis e poder dentro do próprio conselho e a legitimação dos mesmos dentro da organização. É importante que os membros do conselho estejam em conformidade com as convenções adotadas pela cooperativa. Ainda, é imprescindível a responsabilização dos gestores em cláusulas, visto que as características dos padrões da política que direcionam estes gestores e órgãos são princípios ímpares para preservar o valor social e econômico da cooperativa no mercado perante os cooperados e/ou clientes e demais stakeholders ao longo do tempo.
Nesse sentido, mais importante do que os produtos ou serviços em si, está à conformidade da gestão cooperativa perante as demais instituições que circundam o ambiente de atuação da mesma. Ou seja, como estas instituições que podem ser clientes, fornecedoras, parceiras ou concorrentes veem a cooperativa? Qual a representatividade delas no mercado?
Tão importante quanto à disposição do conselho administrativo, está à organização do quadro social. A presença do quadro social, previamente organizado em conselhos de núcleos é determinante para participação e representatividade dos associados dentro da estrutura e do processo democrático que regem estas organizações.
Para se instaurar um sistema de governança que gere sustentabilidade social e econômica para a organização, em primeiro lugar, é importante que os sócios definam em planejamento conjunto quais ações e estratégias são mais interessantes para a mesma. É preciso considerar neste momento, qual o contexto que a cooperativa está inserida, a que parcela de mercado ela atende, qual a sua disponibilidade de capital físico e humano, quais as suas políticas em relação aos direitos de propriedade e distribuição de capital, bem como os riscos do qual está exposta. Mesmo que o custo democrático da participação, neste caso, seja maior para as organizações cooperativas, o planejamento estratégico conjunto, elimina o problema da comum separação entre quem planeja e executa o plano de ação e se aproxima mais da real necessidade dos membros.
Uma vez acordado o plano é importante instaurar um sistema de políticas para institucionalização deste, ou seja, os princípios e diretrizes da organização devem estar ao alcance de todos. Neste momento, os gerentes de linha, bem como os representantes, líderes dos núcleos tem um papel significativo para disseminação de novas condutas tanto aos funcionários, quanto ao quadro social, respectivamente. Neste momento, a transparência dos contratos e a segurança dos dados são aspectos importantes para elevar a confiança e fidelidade dos cooperados.
Outro aspecto a ser considerado na estrutura de governança das cooperativas está relacionado ao processo de sucessão dos gestores e da formação de novos líderes. Neste sentido, cabe observar se há regras claras pré-estabelecidas para a posse destes cargos por novos membros e se há um programa de treinamento para os sócios que desejam compor o conselho.
Ao considerar um programa de formação para novos líderes é importante observar se o conteúdo previsto atende ao atual estágio de maturidade gerencial e competitiva da cooperativa e se o mesmo oferece suporte para a posterior atuação dos cooperados. Nesse sentido, indicadores de desempenho e análises históricas podem responder se este treinamento tem formado gestores capazes de assumir a administração e gerar bons resultados para a cooperativa. A considerar o caráter democrático do negócio cooperativo, este processo deve contemplar a prévia aprovação destes novos membros por parte do quadro social.
A perspectiva da governança corporativa é, portanto, manter a perenidade da organização, ou seja, a questão principal é: a partir das diretrizes de gestão regulamentados dentro da estratégia da instituição é possível que a organização se mantenha competitiva daqui a cinco ou dez anos?