A energia das lideranças das cooperativas pode estar se desperdiçando ao controlar desempenhos não estratégicos pelo uso inadequado dos KPI; definidos sem considerar visão, missão e princípios fundamentais que privilegiam os interesses dos cooperados e a humanização das relações com os colaboradores. KPI, como sabemos, significa Key Performance Indicator, ou Indicador-chave de performance. São números utilizados para avaliar o desempenho de gestores, mas podem ser capilarizados para outros níveis da hierarquia. É boa ferramenta de controle, porém com limitada eficácia para o planejamento e baixo alcance para a fidelizar clientes e aumentar o compromisso dos colaboradores.
Foi moda nos anos setenta do século passado uma técnica chamada GPO - Gerência Por Objetivos. Era um avanço em relação às práticas anteriores de gestão focadas nas atividades e não nos resultados. O presidente definia seus objetivos empresariais que deviam ser cumpridos através dos objetivos divisionais dos diretores. Estes definiam os objetivos gerenciais dos departamentos e impunham as metas às chefias e supervisores; assim por diante, até que todas as pessoas soubessem exatamente o que deveriam fazer para atender aos objetivos do... presidente. Aí entrava o RH com programas de prêmios por desempenho e equações engenhosas para rateio, porém apenas requentando o que Taylor propunha em 1911 com seus Princípios de Administração Científica. Era a Velha Economia em seu estado mais puro; contradizendo tudo o que os bons princípios cooperativistas já ensinavam desde o Século XIX.
As planilhas com os KPI das empresas contemporâneas – e de muitas cooperativas - são mais sofisticadas. Pretendem consolidar quais metas e quem são os responsáveis para desenvolver a competitividade, medindo a eficiência dos processos e produtividade em termos de ingressos, sobras, geração de caixa, vendas, qualidade, redução de custos e rentabilidade dos recursos humanos. A prática mais comum – tão bem intencionada quanto ingênua – cria a ilusão de que há gestão participativa quando todos os gestores até determinado nível são convidados a definirem eles mesmos seus próprios KPIs e aceitam por eles serem avaliados e receberem seus bônus.
Alguns KPIs muitas vezes apontam para um conjunto de macro-objetivos definido pela alta administração e resultam de alguma negociação para que sejam ao mesmo tempo possíveis e desafiadores. Há riscos de que apenas projetem os resultados do passado, sem pensamento estratégico inovador. A fragmentação inibe a sinergia entre os resultados parciais, estimula o clima de competição e, mais grave, não assegura que as lideranças estejam colocando sua energia mais além de o quê fazer; dando menor importância, antes de decidir quem fará, a duas questões estratégicas fundamentais: por que fazer em uma cooperativa e para quem fazer – ou seja: cooperados, clientes e colaboradores.
Objetivos estratégicos eficazes estão vinculados à dimensão filosófica expressas em valores, visão, missão. Deles derivam metas; metas têm indicadores. Somente neste momento, de acordo com as competências potenciais e atribuições, os KPIs econômicos e financeiros devem ser contratados em uma relação única e pessoal líder-liderado, harmonizando as aspirações recíprocas de ambos, em um tripé meta-responsabilidade-competência. Sempre lembrando: KPI é ferramenta de controle, não de planejamento ou motivação. A principal utilidade de avaliar o desempenho é o aprendizado e o aperfeiçoamento contínuo. Não é a única referência a ser utilizada para a premiação, pois as avaliações não devem ser feitas através de planilhas do tipo previsto/realizado burocraticamente analisadas em reuniões anuais de feedback.
As recompensas, sejam bônus, promoções ou prêmios, são consequências e não causas de um bom desempenho. Mais importante do que ativos, patrimônio e até mesmo do capital intelectual de uma cooperativa é o Capital Relacional. Bons planos, motivação e compromisso com as metas são garantidos através de contínuos, permanentes e intensos processos de relacionamento interpessoal. Um bom quadro de KPIs deve contemplar e derivar de metas e indicadores de gestão e aprendizado privilegiando a qualidade das relações das lideranças com a equipe e com os cooperados/clientes.