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Ex-presidiários contam histórias de trabalho e superação a jornalistas de todo o Brasil

20/08/2015

À primeira impressão o que se observa ao chegar às instalações da Cooperativa Sonho de Liberdade é um lugar árido, repleto de lixo. Localizada próxima à Estrutural, cidade a 15 quilômetros do centro de Brasília (DF), o empreendimento reúne cerca de 100 ex-presidiários - alguns cumprindo pena em sistema condicional - e ex-moradores de rua.  
 
Criada em 2005, a Sonho de Liberdade ocupa região marcada inicialmente por atividades criminosas, como desmanches de carros roubados e tráfico de drogas. Na última sexta-feira, 14 de agosto, foi realizada visita ao projeto, dentro da programação do 9º Encontro de Jornalistas da Fundação Banco do Brasil.
 
Durante a atividade, os jornalistas ouviram testemunhos do fundador da cooperativa, Fernando Figueiredo, do artesão José Divino Vieira e do marceneiro, Carlos Renê da Nóbrega sobre a transformação de suas vidas a partir do reaproveitamento da madeira e do cimento usinado descartados pela construção civil.
 
Em seu depoimento, Fernando contou sobre sua experiência de trabalho em regime prisional que o inspirou em seu novo caminho. Segundo ele, durante o cumprimento da pena, veio a inquietação sobre o que fazer após cumprimento do regime fechado. Foi quando apareceu a possibilidade de trabalhar na produção artesanal de bolas de futebol, que deu a ideia inicial da cooperativa.
 
Devido à concorrência com produtos chineses a produção de bolas não vingou e logo surgiu a oportunidade de trabalhar com reutilização de madeira descartada no lixão.  Hoje, além da madeira, os cooperados também trabalham na reciclagem de cimento usinado para fabricação de bloquetes para meio-fio e também com tapeçaria.
 
“É com muito orgulho que recebo todos para falar um pouco desse projeto que sempre estive à frente. Porque ninguém aqui pode imaginar o que passamos. De onde vimos, poucos escapam. O que parece lixo para muitos é de onde a gente tira o nosso sustento, porque o homem parado, sem trabalho, não tem dignidade. O desafio da cooperativa é acolher aquele que a sociedade desprezou”, declarou Fernando.  
 
Mesmo em tempos de crise, a cooperativa não para. São recebidas mais de 100 toneladas de madeira por dia, que serão aproveitadas para construção de móveis ou como combustível para indústria. Segundo ele, o lucro da cooperativa já foi de R$ 200 mil no auge da produção, mas em tempos de crise o lucro caiu para R$ 100 mil por mês, divido entre os cooperados, conforme a produção de cada um.
 
Quem também teve sua vida transformada pelo trabalho na cooperativa foi o marceneiro, Carlos Renê. Há três anos no local ele se declara um homem muito feliz por trabalhar com o que sabe e ao lado da família. “É muito difícil sair do crime. Sou muito grato, porque o Fernando me abriu as portas quando mais precisei”, contou Renê. As peças confeccionadas por ele estão sempre expostas em grandes feiras e shoppings da cidade e já tem encomendas de 70 novas peças.   
 
Outra história impressionante é a do ex-morador de rua, José Divino, apelidado de MacGyver pelos colegas devido sua facilidade em transformar o que retira do lixo.  O baiano de 45 anos veio para o Distrito Federal após ter ficado viciado em crack. Ele contou que largou família e tudo que tinha por causa das drogas e que chegou até a cursar o 2º ano da faculdade de direito.
 
Após assaltar um supermercado pela 15ª vez, no Guará, região administrativa do Distrito Federal, Divino foi pego e, ao invés de entregá-lo à justiça, o dono do estabelecimento o levou para conhecer a Sonho de Liberdade. José Divino aceitou o desafio e hoje tem recebido diversas encomendas de mesas, poltronas, cadeiras para manicure, cadeiras infantis e outros objetos.
 
Para agregar valor ao trabalho desenvolvido na cooperativa, o projeto contou também com o apoio do designer de móveis, Thiago Lucas, que descobriu a cooperativa ao realizar um trabalho de curso da Faculdade de Desenho Industrial da Universidade de Brasília. Com a aplicação do design, os móveis produzidos têm tido maior valor de mercado, com peças atingindo até R$ 5 mil na venda.
 
O trabalho desenvolvido pela Cooperativa tem permitido a transformação de quase todos os cooperados. Segundo Fernando Figueiredo, apenas 2% dos que participaram do projeto reincidem no crime. Ele finaliza afirmando o lema da Sonho da Liberdade: “O crime não compensa”. 

O Nortão

 

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